Em sobre a brevidade da vida, Sêneca parte da opinião comum de que “a vida é breve”, e discorda dela. Para demonstrar sua tese, ele propõe uma reflexão sobre a ocupação e o ócio: É muito breve a vida dos ocupados. A vida divide-se em três períodos: o que foi, o que é e o que há de ser. Destes, o que vivemos é breve; o que havemos de viver, duvidoso; o que já vivemos, certo. Eis o que escapa aos ocupados, pois eles não têm tempo de reconsiderar o passado e, mesmo se tivessem, ser-lhes-ia desagradável à recordação de uma coisa da qual se arrependem. É próprio de uma mente segura de si e sossegada poder percorrer todas as épocas de sua vida; mas o espírito dos ocupados, tal como se estivesse subjugado, não pode se voltar sobre si mesmo e se examinar.
Portanto sua vida se precipita num abismo. É extremamente breve a vida dos que esquecem o passado, negligenciam o presente e receiam o futuro; quando chegam ao termo de suas existências compreendem tardiamente que estiveram ocupado em nada fazer. Portanto anseiam por uma ocupação qualquer, e todo intervalo de tempo entre duas ocupações lhes é um fardo. A espera de qualquer coisa por que anseiam lhes é penosa, mas aquele instante que lhes é grato corre breve e rápido e torna-se muito mais breve por sua própria culpa, pois passam de um prazer a outro e não podem permanecer fixos num só desejo. Perdem o dia na espera da noite, à noite, de medo da aurora. Em meio a grandes labutas, conseguem o que desejam e ansiosos conservam o que conseguiram; entretanto não têm consciência de que o tempo nunca mais há de voltar. Novas ocupações seguem-se às antigas, a esperança suscita esperança, a ambição. Não procuram um fim às misérias, mas mudam seu assunto. Tendo aquele obtido os cargos com que tanto sonhava, deseja abandoná-los e repete incessantemente: “Quando este ano passará?”. Dentre todos os homens, somente são ociosos os que estão disponíveis para a sabedoria.
Lucius Aneus SÊNECA. Sobre a brevidade da vida.
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